Após os confrontos pós-eleitorais que resultaram em centenas de mortes e levaram à criação do Diálogo Nacional Inclusivo, chega agora a conta: mais de 90 milhões de meticais que deverão ser pagos justamente pelo povo que esteve nas ruas a manifestar.
Esse valor é extremamente elevado, principalmente quando contrastado com a realidade do país. Em Moçambique, ainda há crianças que estudam ao relento, mesmo em Maputo, a capital. Diversos distritos carecem de escolas adequadas, e o acesso à saúde continua precário para uma grande parcela da população. A ausência de infra-estruturas básicas, como hospitais e serviços essenciais, afeta diariamente milhões de moçambicanos.
Se compararmos os 91 milhões de meticais destinados ao diálogo com as necessidades urgentes da população, a quantia parece desproporcional. Um exemplo claro é o custo de 500ml de água mineral apresentado num documento oficial: 450,00 meticais, quando no mercado comum o valor não ultrapassa os 30,00 meticais.
É curioso, e até contraditório, que se fale tanto em diálogo, mas o próprio processo que o propõe seja decidido sem um debate sincero sobre a situação concreta do país. Moçambique ainda sente as marcas dessas manifestações. Famílias perderam entes queridos — muitos jovens provedores do lar — e sequer se fala em compensações, enquanto se planeja gastar milhões num diálogo que poderia acontecer em locais simples como o campo do Zimpeto ou até à sombra de uma árvore.
Não se pretende diminuir a relevância do diálogo nacional. Ele é crucial para garantir a paz e a estabilidade. No entanto, espera-se que seja realizado com responsabilidade e consciência da difícil realidade económica. Antes de investir valores exorbitantes nesse processo, é necessário priorizar as carências mais urgentes da população.
Em várias zonas do país, a água potável ainda é inacessível para muitos. Mesmo assim, o governo parece disposto a pagar quase 450 meticais por apenas meio litro de água — um valor que corresponde a cerca de 10 dólares — enquanto essa mesma água custa bem menos nos supermercados. Parece que vivemos num país desenvolvido sem saber, pois essas decisões não condizem com a nossa realidade.
Moçambique enfrenta inúmeros desafios sociais e económicos, e o uso dos recursos públicos deve ser mais eficiente. Embora o diálogo inclusivo tenha o seu mérito, é indispensável lembrar que há setores igualmente — ou até mais — urgentes, como a educação, saúde e infraestrutura. O desenvolvimento do país não pode ser comprometido por falta de planeamento estratégico e visão abrangente das necessidades do povo.
Em resumo, a proposta de um diálogo nacional é louvável, mas precisa estar alinhada com os verdadeiros interesses da população. Ao invés de aplicar milhões em processos que poderiam ser mais simples e acessíveis, é fundamental focar na resolução dos problemas básicos que afetam os moçambicanos diariamente. O governo precisa adotar uma postura mais realista e pragmática, colocando as prioridades nacionais acima de tudo, para que possamos caminhar rumo a um Moçambique mais justo, equilibrado e digno para todos. É hora de mantermos o foco no essencial.
Fonte: Evidência
Quem censura estes cálculos, será que esse gabinetes de combate a corrupção funcionam ou são em si corrupção' como e possível um garrafa de água mineral custar 450 meticais.
ResponderEliminarSe calhar os custos indiretos são mais caros que o próprio produto.